É curioso como, em pleno século XXI, ainda encontramos fotógrafos que não acreditam no valor do que produzem. Seja no registro de momentos íntimos em ensaios de família, na construção de imagens poderosas para profissionais no mundo corporativo, ou até na adrenalina das fotografias esportivas, a desvalorização parece persistir. Mas será que a culpa é apenas do mercado?
Recentemente, aceitei o convite de uma amiga para fotografar corridas de rua. A ideia é fascinante: capturar o esforço, a superação e a conquista de tantas pessoas. Mas o encantamento logo se esvai quando vejo o quanto essas imagens — carregadas de história e emoção — estão sendo vendidas: menos de cinco reais por foto. Isso mesmo, o equivalente ao preço de um café.
Essa prática, infelizmente, não é rara. Muitos fotógrafos, que deveriam ser os primeiros a defender o valor de seu trabalho, acabam desvalorizando a profissão em busca de trocados. E o impacto disso é devastador. Não apenas para o fotógrafo em si, mas para toda a classe. Como esperar que o público valorize nosso trabalho, se nós mesmos insistimos em tratá-lo como um produto descartável?
No último final de semana um colega talentoso, estava vendendo suas fotos por pouco mais de dois reais. Fiquei me perguntando: será que ele considerou o custo do equipamento, que sofre desgaste a cada clique? Ou o combustível e a alimentação para estar presente no evento? E a comissão do site onde comercializa as imagens? No final das contas, o que realmente sobra?
Pior do que o prejuízo financeiro é o que essa prática representa. Ao transformar nosso trabalho em algo barato, reduzimos a percepção de sua importância. Abrimos precedentes para que a fotografia seja vista como "apenas uma fotinha". Afinal, estamos falando de uma arte que registra histórias, celebra conquistas e eterniza momentos que jamais se repetirão.
Essa situação me leva a refletir: por que ainda aceitamos sobreviver em uma profissão tão rica de significado? Desde os primórdios, a fotografia luta por reconhecimento, e agora, com a popularização dos celulares, o desafio é ainda maior. Mas será que a solução é sucumbir à desvalorização? Não deveríamos, ao contrário, reforçar o valor da nossa arte, não apenas em cifras, mas no impacto que ela gera?
A pergunta que deixo é simples, mas fundamental: você quer viver ou apenas sobreviver da fotografia? Afinal, cada clique carrega mais do que luz e sombra; ele carrega o reflexo de como enxergamos a nós mesmos e o mundo ao nosso redor. Não é hora de repensarmos quanto a isso?